Sempre segui-te em segredo
sem levantar suspeitas, sei onde vais, com quem encontras-te, o que gostas de
fazer, onde gostas de ir e quem são os teus amigos e familiares. Sei que isso é
perseguição, mas não tive outra forma de conhecer-te mais a fundo pois não
tenho coragem de aproximar-me de ti. Tenho medo de que possas rejeitar-me sem
me dares a oportunidade de mostrar-te quem eu sou e tenho vergonha, pois não
sou nenhuma modelo e nem tenho o corpo de sonho que todo o homem gosta de ver
numa mulher por isso limito-me a ver-te ao longe escondida entre as sombras da
escuridão.
E por mais louco, ofensivo e
totalmente masoquista que isso possa parecer, eu sei que nunca conseguirei
parar de o fazer, até que eu tenha a coragem para declarar-me a ele. Já o
observo há algum tempo e sei que ele não precisa de usar nada espampanante para
continuar a ser devastadoramente bonito como sempre tem sido. Ele é
inegavelmente inteligente, bondoso, adorável e generoso mas também gosta de se
exibir e de mostrar a sua vaidade. Sei que ele gosta de carros desportivos, que
tem uma casa luxuosamente ridícula, que adora dar festas ridiculamente grandes
e duradouras e que no fim do dia ou da noite ele fica sozinho, sem ninguém que
o abrace, cuide ou fique a seu lado. Já vi o seu olhar triste e cansado, já o
vi chorar, ficar acordado toda a noite, fingir que tudo está bem, sorrir quando
quer gritar, ser educado quando quer explodir entre tantas outras facetas que
ele apresenta para não desiludir ninguém.
Ele pensa mais nos outros do
que em si, faz mais do que devia pelos outros e muitas vezes acaba prejudicado
e magoado por causa dos outros, mas não diz nada a ninguém limita-se a ser
aquele homem especial, carinhoso e bondoso que poucos conhecem. Observo-o tão imóvel
e tão silencioso distante de mim, apetece-me alcançar ele e acaricia-lo,
mostrar-lhe que tudo está bem, que ele é bom. Aos poucos começo a cuidar dele,
sem que ele note minha presença na sua vida, começo a trabalhar na casa dele
nas limpezas e isso me dá mais acesso a vida dele. Cuido de tudo com carinho e
como o observo há algum tempo sei como ele gosta de ter as coisas, do que ele
gosta de comer e de como ele gosta de ouvir música enquanto descansa ou toma
banho, preparo tudo com cuidado e carinho para que ele sinta-se amado, mesmo
que ele não note a minha presença na vida dele. Pelo menos eu posso estar
presente para enxugar suas lágrimas e afastar seus medos com poucas palavras
mas fortes o suficiente para o fazerem levantar-se e seguir em frente
novamente.
Sei que estou a agir de uma
maneira ridícula e irracional sendo estupida a ponto de me magoar de forma tão
dolorosa, tão brusca, tão ridiculamente impulsiva que acabo por ferir-me sempre
que o vejo com outra mesmo que sejam só amigas dele. Apesar de ser horrível,
maligno e de todas as variantes de “mau” eu não consigo desistir dele e
continuo a seguir ele. Agarro-me a esperança mais falsa de todas, forçando-me a
expressar um entusiasmo que na realidade não sinto mas recuso-me a deixar de o
ver, de saber o que se passa na vida dele. Quero muito sentir a pele dele, tocar-lhe
nos lábios, sentir o conforto sólido e quente do seu corpo. Quero abraça-lo,
conforta-lo e tirar suas frustrações. Estou cada vez mais ansiosa para mostrar
a ele que eu sou o amor dele, que o meu amor por ele é incondicional, que
estarei sempre disposta a aceitá-lo aconteça o que acontecer sem fazer
perguntas. E isto cada vez me aproxima mais da minha confissão a ele. Mas agora
não posso voltar atrás.
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